sexta-feira, 24 de junho de 2011

E a trilha sonora?


O que mais me fascina na moda é a sua complexidade. É impressionante como ela consegue promover um encontro delicioso entre os mais diversos setores da sociedade, né? E para fazer um evento, como o SPFW, é muita, muita, muita gente envolvida mesmo. 

Osklen | Verão 2012

E nesta temporada, ao ver o desfile da Osklen, comecei a pensar um pouco mais sobre isso. Essa foi a primeira vez que assisti ao vivo o desfile da grife carioca, que é super queridinha entre o povo mineiro. Amei tudo, afinal Oscar Metsavaht realmente arrasa, né? É chocante o tanto que o cara consegue se reinventar dentro de uma mesma identidade, repensar conceitos e sempre agradar até os mais críticos. Mas, este é outro assunto. E lá, na sala de desfile, uma das coisas que mais prenderam minha atenção foi a trilha sonora. Por alto sabia que a Gomus tinha produzido, mas não tinha noção como era complexo alcançar aquele resultado tão inusitado e emocionante. 

Depois do desfile, fui pesquisar um pouco sobre o conceito da trilha e como tinha sido o processo de desenvolvimento daquele som que deu o tom do desfile. A coleção foi batizada de Royal Black e retratava a influência da cultura negra no Brasil e a trilha revelou exatamente isso. Ela soube mesclar instrumentos de percussão africanos, afro-sambas e o inconfundível funk carioca. A principal referência era a influência da cultura africana na Bahia e no Rio de Janeiro. Sendo assim, a música – gravada nos estúdios da Gomus – foi produzida com diversos instrumentos, como: Talking Drum (instrumento de guerra africano), Berimbaus e violão. No fim, ela é arrematada com pontuações inspiradas no atual Funk Carioca. Muito bem pensada, né? 

Confira o desfile e surpreenda com a trilha!

E foi por isso que decidimos conversar com o pessoal da Gomus, para entender um pouco mais do processo de produção de uma trilha sonora para um desfile. Afinal, ela é responsável por reger os passos dos modelos e envolver o público de uma forma super particular. Guto Guerra, diretor criativo Gomus, contou pra gente que nesta temporada o estúdio assinou, além da trilha da Osklen, no SPFW, a da Coca-Cola Clothing e New Order, no Fashion Rio, e da Sta Ephigênea, no Fashion Business. Confira agora tudo que Guto falou sobre produzir trilhas exclusivas:

New Order| Verão 2012

Como é o processo de desenvolvimento de uma trilha para um desfile?

O trabalho que a Gomus faz, de criação de trilhas sonoras autorais para desfiles de moda, é algo pioneiro no mercado brasileiro. O mais comum no Brasil são as marcas contratarem DJs para selecionar uma trilha para o desfile. Mas, muitas vezes, o DJ só vai ter contato com a proposta da coleção um ou dois dias antes do show! O trabalho que nós fazemos é totalmente diferenciado. Começa três ou quatro meses antes do evento. Nós participamos do processo criativo do desfile desde o início. Quando o estilista ainda está na fase de pesquisa e croquis, nós já nos inteiramos do conceito da coleção, participamos do briefing e voltamos para o estúdio para compor, criar, gravar e mixar a trilha sonora. O resultado alcançado é incrivelmente satisfatório porque, na verdade, a música foi criada exatamente para aquela coleção, completamente alinhado com a proposta artística que o estilista desejava passar. Obviamente é um processo mais trabalhoso, mas bem recompensador.

Alguma trilha que mais marcou?

Nós temos um know-how de criação de trilha sonora para o mercado de moda que já vem de alguns anos. Já foram muitos desfiles, com propostas totalmente diferentes. Fizemos o primeiro desfile com trilha surround 5.1 na América Latina, já colocamos músicos ao vivo tocando na passarela, fizemos a trilha para um fashion show que foi em uma sala de cinema! Mas acho que o trabalho que mais me surpreendeu foi a que produzimos para a coleção SAMBA, da Osklen, no SPFW, algumas temporadas atrás. Nós gravamos ritmistas de uma escola de samba, de um modo que no início do desfile o som começava muito distante e, a medida que o desfile acontecia, a bateria se aproximava, ficava mais alto, mais presente.

O efeito era como se você estivesse na varanda de sua casa, com um bloco de carnaval começando a tocar na esquina, e lentamente se aproximando. E você ia entrando pouco a pouco no clima, sendo invadido completamente. O resultado disso foi uma quebra total de protocolo no desfile, que eu nunca tinha visto antes na minha vida. Assim que a última modelo saiu e apagou a luz, antes que ocorresse a reentrada,  todo o público se levantou e começou a gritar e aplaudir, como se estivesse num estádio de futebol! Quem acompanha moda sabe que esperamos o estilista aparecer na reentrada para ser aplaudido. Ali, naquele momento, a trilha sonora foi capaz de influenciar a reação das pessoas, levando o público a uma espécie de catarse, quebrando protocolos. Foi incrível!

Desfile Samba | Verão 2010
O desfile começa sem som e, aos poucos, a trilha começa a aparecer!

Tá vendo? A trilha faz toda a diferença. E esse encontro entre música, estilo, tendência, tecidos, idéias e tudo mais fazem da moda ainda mais fascinante!

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